domingo, 11 de março de 2012

sexta-feira, 2 de março de 2012

Village-Life-Experience em Chão Sobral de 1 a 7 de Abril

VILLAGE LIFE EXPERIENCE

em Chão Sobral

Uma semana na aldeia : é esta a proposta que aqui lhe dirigimos.
Do acordar ao deitar, são cinco dias repletos de actividades que além de lhe provar que a vida no campo floresce de oportunidades, é também uma forma de lhe transmitir um conjunto de práticas. Pelo meio, atravessam-se refeições partilhadas num espírito de convívio bem como uma série de actividades nocturnas que vão dos contos tradicionais a outras artes da lareira….
De fora não ficam ainda as suberbas paisagens que funcionarão como mote para muitas das propostas que aqui lhe dirigimos.


Onde

Aldeia de Chão Sobral: uma pequena aldeia aninhada entre os 600 e 700 metros de altitude na Serra do Açor, de onde se avista a Serra da Estrela e a Serra do Caramulo. Dista 16 kms da aldeia histórica de Piódão, 11 kms do Monte Colcurinho (miradouro e local de peregrinação a 1242 metros de altitude), 3 kms do notável Santuário de Nossa Senhora das Preces, e 10 kms de Aldeia das Dez.

Residem em Chão Sobral cerca de 140 habitantes e uma população jovem muito ativa na Associação local para a realização de atividades variadas de animação cultural e recreativa, onde se incluem Passeios Pedestres e Passeios em Bicicleta Todo-o-Terreno - BTT.

Embora a maioria dos trabalhadores estejam a sair, e a voltar diariamente, para prestar serviços fora da aldeia, existem aqui diversas atividades com base nos recursos naturais locais: aguardentes de medronho e de bagaço, enchidos, compotas, queijo de Ovelha e de Cabra, produtos hortícolas, mel, artesanato em madeira e de xisto, facas “Corte-Real”, tapetes de fitas, tapeçaria de Arraiolos e lenha.


Programa

- Dia 1 de Abril
Chegada


- Dia 2 de Abril

Manhã:
Pastoreio de cabras na serra - José Mendes
Roçar mato para os animais - Cuidar das ovelhas e coelhos - Mário

Tarde:
Enchidos parte 1 - Preparar a carne – Isabel
Pão de milho - Luciana


- Dia 3 de Abril

Manhã
Horta na serra - Raimundo
Facas - Cecília e José

Tarde
Forja – Agostinho
Tapetes de fitas - José Martins


- Dia 4 de Abril

Manhã
Fazer lenha com machado - José Silva
Plantar árvores, podar e enxertar - José Dias

Tarde
Enchidos - Encher as chouriças - Isabel
Xisto criativo - Artesanato em Xisto - Vítor Curinha


- Dia 5 de Abril

Manhã
Raízes Criativas - Artesanato em Madeira - Nelson
Fazer muros/socalcos com pedra seca - Manuel

Tarde
Queijo de cabra - Luciana
Fazer muros/socalcos com pedra seca - Manuel



Dia 6 de Abril

Manhã
Ciclo do Medronho - Armando
Queijo de ovelha - Conceição

Tarde
Ciclo do Medronho - Armando
Coscureis - Bolos Tradicionais - Maria Clara


- Dia 7 de Abril

Dia livre para passeios e afins


Custos e Condições


>> 220 EUR + IVA em regime de alojamento e pensão completa para a semana toda
>> 60 EUR + IVA por dia em regime de alojamento e pensão completa
>> 50 EUR + IVA por dia sem alojamento mas com acesso às formações e refeições.
O acesso a cada ateliê requer uma inscrição prévia dado que o número máximo de participantes por actividade não poderá exceder os doze participantes, pelo que serao admitidos um níumero máximo de 24 participantes a esta edição da Village Life Experience.

Inscrições


Agradecemos que todos os interessados nos contactem através do mail farmerslifeexperience@gmail.com ou dos seguintes números de telefone: 216 073 905 e 926 506 033


Links

>> www.farmerslifeexperience.com

>> http://tradicional.campingcarportugal.com/locais/local17.htm

http://www.facebook.com/events/324226377625451/

Mais sobre Chão Sobral
http://chaosobral.org/hlcdomeuchao.htm

Grato pela divulgação,

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Documentário “Alface” - Aldeia das Amoreiras Maio de 2011

Texto para as legendas do filme “Alface”

Vá, Maria João, podes cantar.
A da Oliveirinha?
Sim.
“Oliveirinha da Serra,
O tempo leva a flor.
Ó-ió-ai, … já não me lembra a música toda.
Ó-ió-ai, só a mim ninguém me leva.
Ó-ió-ai, lá p’ro pé do meu amor.
Já cantei!


E aqui, o que é que pôs?
Pus só, aqui, as cebolas,
e essas árvores aí,
salsa, poejos, hortelã,
e mais nada …
está uma ameixeira, um dióspireiro.
Pronto, e não tenho mais nada.
E porque é que pôs cebolas?
Pus cebolas porque é o que leva menos água.
Pois.
Se fosse ou tomateiros
ou pimentos ou couves leva mais água.

Eu pus aí bilhas por causa da água,
para aproveitar a água da chuva.
Sim, é, é! É por isso que tenho aí as bilhas,
tudo, aí debaixo das escorredeiras.
É para aproveitar a água.
Depois usa a água para quê?
Dá para mim ir regar as flores, mim ir regar as plantas, lavo as casas.
Aproveito, não gasto a água da rede,
pois tenho que a pagar.
E agora, este mês,
paguei um porradão de dinheiro!
…que eu não nunca pagava tanto!
E agora paguei uma porção de dinheiro!
E da luz foi o mesmo!
Paguei um dinheiro,
que eu nunca tinha
pagado tanto dinheiro de luz.
Veja lá, antes de ontem fui a São Martinho,
oh, mamaram-me o dinheiro
da minha reforma todo!
Estas alfaces, que estão por aqui,
plantou-as?
Não, nasceram por elas.
Nasceram por elas.
Porque eu, todos os anos,
deixo isto dar semente,
depois vindo as primeiras águas,
as sementes estão muitas aí no chão,
depois chove,
a terra está quente, do Verão,
Oh, nascem tantas, tantas!
Tapa-se aí tudo!
Depois tenho aí uma fartura logo no cedo! Tenho aí fartura, fartura!
Agora, há pessoas que apanham ...
Oh, há aí tantos, tantos!
Eu nunca tinha visto tanto bichos desses,
como eu tinha visto este ano,
por causa de chover muito.
Olhe aí,
os taroucos das favas estavam fechadinhos,
desde o pé do chão até às pontinhas,
fechadinhos, fechadinhos.
Tapadinhos, tapadinhos em caracóis.
E era as alfaces, era aí tudo.
Comem nas couves todas.
Ai, tal é isto!
Espera que já sabem o que é que apanham.
Aí nos cafés, fazem isto e vendem para os homens beberem cerveja e comerem isto.

Olha!
Ainda apanham isto... fundas … pá pesca!
Aí na barragem …
O Senhor ainda vai à pesca?
Agora já não. Mas ia sempre.
Aí tenho eu dois carretos... bons.
O cebolo que tem aqui – onde é que foi buscar a semente?
Colhi, não vê ali? Aquela cabeça e outra?
Aquela é que dá a semente.
Então, debulhei e semeei aqui.
Já tenho aqui 4 mil… 4 mil pés.
E agora já vim ver,
por aí, antes de ontem apanhei,
e já está capaz de se apanhar mais.
Agora, aqui tenho-o guardado …
que é para a professora.
Encomendou-me logo este ano,
e olha, está aqui agora.
Mais logo está grande demais.
Bem...
E as ervilhas, também guarda as sementes?
Ah, depois guarda-se.
Guarda-se tudo. Feijão, batatas...
Tem de se semear tudo de novo.
Que árvore é que tinha plantado aqui?
Olha, aí era um casmineiro.
Um cas…
Um casmineiro!
Chamam-lhe um casmineiro,
chamam-lhe um marecotaneiro… marecotaneiro, também lhe chamam …
Damasqueiro.
Não! Isso é …
Damasqueiro não.
É o que estava aqui.
Damasqueiro era esse.
Estava aqui,
o que está aí seco é que era um damasqueiro.
Era igual, quase.
Aquele além é um dióspireiro. Esse que está aí.
Pode ser marecotaneiro, pode ser casmineiro que é a mesma coisa!
Pessegueiro?
Sim.
É o mesmo também!
Os três nomes. Pois.
Pêssegos é pessegueiro.
Marecotos é marecotaneiro.
Casminos é casmineiro!
Isto é tanta palavra para uma palavra só!
É assim!

Isto é como o outro dizia:
“Quem tem … acha!
E quem não tem não acha!”
Se eu não tenho disposto estas ameixeiras aqui,
agora não apanhava aqui ameixas.
E assim,
estive com muito trabalho de abrir covas,
dispor, regar, tratar ...
para agora ter fartura para comer mais os meus. Pois.
E o meu amigo pode apanhar ameixas e comer … pois, não é só estar a tirar … a fotografia.
Volta-se aí à arvorezinha, apanha, come.
Se quiser levar para casa
para comer mais os amigos, pode levar.
Eu estou a apanhar para levar para casa.
E o meu amigo quer apanhar para levar para casa, pode apanhar à vontade.
Está correcto ou não está?
Bom, e para agora … chega
…umas para eu comer,
outras para convidar os vizinhos de pé da porta. E têm de ficar também algumas para os passarinhos,
os passarinhos também comem!
Pois é. Sim Senhora!

Esta é a laranjeira.
E isto é a romaneira,
ela está carregada de flor.
Usa a dar aqui umas romãs tão boas!
Aquela apernada além já precisava corta.
Já lá vai a galar a laranjeira.
Querem experimentar aqui uma laranjinha, experimentem!
Não se atrapalhem!
Se serem doces, são.
Se não forem eu não tenho culpa!
Ainda não as experimentei sequer.
É do São João. Experimentem!
Apanhe aí uma,
que ache que já esteja melhor.
Apanhe uma que seja melhor
– vocês é que apanham!
Vocês é que a comem,
depois se for ruim não têm nada a dizer,
foi a que apanharam.
Vá!
Está ali um casmineiro pequenino, agora.
E aquela erva que está ali?
Qual?
Ah, isto é o funcho!
Chama-se o funcho.
Muito cheiroso!
Não sabem o que é o funcho?
Veja lá o cheiro disto.
Eu uso a plantar disto,
quando apanhando as batatas,
depois por cima,
planto-lhe uma mão cheia disto...
que é para elas não tomarem bicho.

Depois,
ponho ali uma camadinha de batatas no caixote,
e depois ponho uma camadinha disso e de poejo,
e depois vai mais umas batatinhas por cima.
Depois, por cima, mais outra coisinha disso.
Que é para elas se aguentarem assim.
Isso, havia aí tempo que era muita moléstia.
E é!
A quem se descuida, elas tomam a borboleta e têm de se jogar todas (fora).
E aqui é um casmineiro,
mas ele está com a doença, quer se secar.
E isto, aqui,
é uns pauzinhos para mim tirar os bichos.
Não estará nenhum?!
Olha hoje não tem nenhum.
É para se agacharem aqui os rapinos.
Comem aqui estas florinhas, e comem aqui os craveiros, comem isto tudo.
E depois planto aqui uns canudozinhos,
a ver se eles se enganam a ir para aqui
e eu depois mato-os.
Mas, é que eles não estão aí.
Olha! Ainda estava um.
Faço isto todos os dias, sempre tiro alguns.
Isto a bicheza dá cabo das hortas,
dá cabo de tudo!
Olha, esta então, está cá na abrigada,
está cheia de porcaria!
De bicheza!
Acolhem-se aqui, dão cabo das árvores!
E então, ensinaram para mim
pôr estas coisinhas, que os bichos …
aquilo é posto uma gotinha de água e açúcar.
E os bichos cheiram-lhe, vão para além.
E quando aquilo estando quase cheio
planto-lhe outra.
E basta pôr água e açucar?
Sim! Esta aqui, tenho que tratar dela,
está precisando disso.
Não vê a bicheza?!
Veja lá a bicheza que está aqui!
Agora, tenho que lhe
pôr mais uma gota de água e pôr-lhe mais açúcar,
e vir pendurar.
Ah! Então isto! Isto para se possuir umas arvorezinhas … os bichos dão cabo de tudo!
É preciso ser daquelas pessoas
que sabem tratar disto.

Esta é a de bico. Esta é a antiga.
Esta laranjeira vai aqui para 80 anos, esta.
Porque eu comprei a casa
já há muitos anos, muitos anos,
há 40 e tal, e ela já era laranjeira.
E que animais é que tem aqui no quintal?
Ah, aqui é só as rolinhas.
As rolinhas e os pombos. Só.
E ali em baixo também tem um ...
Além é um galo.
Aquilo é um galo, que canta, e um pato ...
Também tem alguns patos?
Não, não,
é só um patinho para comer os bichos só.
Só tenho um pato. Anda aí à volta …anda aí.
Um pato para comer os bichos?
É, come os caracóis,
e essas coisas das ervas.
Venha cá ???, venha já!
Venha já! Vá! Vá p'ra ali!
Ali é uma galinha que choca.
É da postura.



Comam aí. Venham cá...
É isto que elas comem, aqui...
Aí dentro também tem umas árvores ...
Sim, aqui dentro, tenho ali um pereiro, e tenho um dióspireiro, daqueles de roer.
Qual é que é o pereiro?
O pereiro é este aqui.
O dióspireiro é aquele que está ali
dentro do coiso... do plástico,
que é para elas não estragarem-no.
É uma planta que está novinha ainda.
Então tem que ser protegida,
se não elas estragam-na.
Toda a gente devia ter abelhas, assim,
colmeias?
As abelhas fazem falta, quer dizer,
não precisa toda a gente ter,
vamos supor,
esta colmeia que tenho aqui dá
para fazer a fecundação toda aqui em volta.
Quem diz esta diz várias,
10 ou 12, aqui na volta, chega.
Mas se não houver abelha nenhuma,
aqui em lado nenhum,
não houver abelha nenhuma,
não houver besouro nenhum,
as flores não são fecundadas,
não se reproduzem.
Não vingam no fruto.

Pois, se houver uma crise alimentar,
se hoje acabasse o petróleo, hoje, …
Pronto, não há petróleo!
Que tivéssemos que voltar
a aproveitar outra vez as energias naturais,
o vento, a água,
as energias naturais como antigamente,
90% morriam à fome. Pois.
Se fosse uma coisa …
Pronto, acabou o petróleo no mundo!
Não há petróleo no mundo!
Tivéssemos que voltar à estaca zero,
à aproveitar as energias naturais...
matavam-se uns aos outros,
e os outros morriam à fome.
É uma coisa que está prevista,
isso mesmo,
está visto, está escrito! Que é …
a juventude de hoje, os meus netos,
os seus filhos hoje
foram criados numa outra vida,
não sabem como é que se amanha a terra,
como é que se vai fazer as coisas,
para se arranjar ... para sobreviver.
Aqui dentro da estufa
temos o feijão verde,
temos o pepino,
temos o tomate,
e … temos também ali
o pimentaneiro.


Aquela planta que está ali serve para quê?
Não sei bem o nome disso,
diz-se que é para …
tem um cheiro activo,
para espantar os ratos,
os toupeiros,
especialmente os toupeiros.
Ao tomate pertence,
como os algarvios fazem,
chama-lhe a gente “capar”,
desenramam por dentro,
por baixo, e ele faz-se mais grado.
O tomate...
E como é que se capa isso?
É ... cortam-se os brolhos, estes.
Chama-lhe a gente “os mamões”.
Cortam-se este brolhos,
assim, para a força ir para o tomate.
Isto, quando vem o São João já dá.
E aí, junto aí ao alho semeei alfaces,
uma fartura...
Aqui tenho mais.
E aqui é a tal “gália”,
isto tem que se capar,
tem que se capar aqui aos 3 lanços.
Vê? Aqui está o melão,
corta-se aqui à frente.
Ele está aqui, a gente corta aqui.
Se o petróleo faltar,
o pessoal junta-se aqui
em volta da sua horta...
Se ele faltar? Não … Nunca.
Embora caro …
Os homens lá... têm petróleo
não têm água.
A gente cá temos água
não temos petróleo.
Cada casulo destes trás uma planta
um gajo … é só tirar a planta e plantar ali.
Vem já … meio caminho andado.
Esta fava aqui .. foi com que semente?
Fava normal, fava aí da região.
Está mesmo boa, já.
Mas é fava que guarda ou é comprada?
Esta, por acaso, comprei lá em Garvão.
Já há aqui ...
É a primeira semente
que chega a casa é a fava.
Está aqui, está, … está aqui está madura.
Mas, agora é que ela faz um jantar ...
Faz um jantar... tipo, mais forte,
é mais resistente, mais …
já tem a testa negra...

Flores para mim têm um valor!
O meu marido disse,
dizia às vezes, diz-me assim:
Tu, por flores faz favor!!
E eu digo assim:
Eu fui criada nisto.
Não foi em Lisboa,
foi ali nas Pretas, ali ...
Nem calcula o senhor o que aquilo era …
E foi ali que eu fui criada, muitos anos.
E depois fomos para Lisboa,
íamos passar ali dois ou três meses.
Íamos para Lisboa ...
Íamos para as praias,
íamos para o Estoril.
E então,
tenho sido uma pessoa
muito amiga de flores.
Por onde eu passo …
Olhe, há tempos … fui lá a Odemira,
fui lá à Fonte Férrea,
comecei a coiso …
trouxe umas roseiras!
É onde eu passo, pronto … gosto.
E depois sou uma pessoa,
muito aberta para toda a coisa...
Há pessoas que dizem assim:
Não podes ser assim!
Não! A gente pode ser assim.
É o nosso feitio!
Eu comprei um motor a petróleo.
Eu comprei um candeeiro, petromax,
para me alumiar, a petróleo.
E comprei também a gás, pois.
Petromax a gás.
Foi, mas os meus princípios foi de petróleo.
Pois. E alumiava, muito bem.
E agora, essas coisas, do petróleo,
essas coisas da gasolina ...
A Gasolina também é uma coisa
que faz muita falta.
Hoje, faz falta, agora, mais, neste tempo …
Achavam mais falta, hoje,
à gasolina do que ao petróleo.
Porque … sabe porquê?
Porque há mais transportes.
É tudo à base de gasolinas, né ...
E a petróleo nada. Pois.
Portanto, a juventude, de hoje, nova,
achava mais falta da gasolina.
Mas, agora para governos,
como eu estou aqui a falar...
O petróleo também é uma coisa
que fazia, faz, muita falta.
Agora,
o petróleo, … mas gasolina,
ambas as coisas,
uma ou outra faz …
Mas, para mim, achava que
o petróleo fazia mais falta que a gasolina.

Que árvore é que está aí a enxertar?
Isto é uma laranjeira brava
e agora estou a enxertar em âncora
e em clementina.
Silvina: Então, e isto é à força ...
Joaquim: Se não pegar enxerta-se para o ano.
Silvina: Agora enxertaste de quê, mano?
Joaquim: Agora é que foi das melhores.
Agora é ancora e é clementina.
Silvina: Olha, vistes! Já comprei, tenho lá,
pus lá no monte. Comprei ...tenho lá.
Joaquim: Mas se esta pegar são duas!
Silvina: Pois estão aqui. Isto é já para os moços,
que eu para mim já estou uma velha!
Joaquim: E o que eu ando fazendo
é para quem?
Silvina: Pois então, é para eles também!
Joaquim: O que ando fazendo também não é para mim!
Silvina: O que gente já faz ... é já para eles,
a gente já não come as coisas.
Tua ainda és novo, agora eu …
Joaquim: Tu estás com oitenta e tal,
eu estou quase com oitenta …
então, mas o que é que a gente espera?
Silvina: É verdade!
Joaquim: Mais uns tempitos ...
Depois olha, se pegarem é para os moços.
Silvina: Pois, então!
A gente não trabalha só para a gente,
tem de ser para as outras pessoas.
Joaquim: Quando a gente cá veio,
também os outros fizeram
alguma coisa para a gente.
Silvina: Quem tem filhos …
Joaquim: Também já havia laranjas, ...
Silvina: Você já tem.
Joaquim: … também já havia pêros,
Silvina: Quem tem filhos tem cadilhos!
Joaquim: … já havia essas coisas todas.
Foi os outros que fizeram.
Isto é ... temos que pensar assim.

Maaau!!
Apanha!
Apanha!
Vês?!
Vai!

Então! Não é fácil?
Espera aí, mostra aqui...
Quem é que fez isto?
Fui eu!
Aqui mete-se no pé da larangeira,
no pé da laranja,
dás uma trocidela
e ela arranca.
Agora vou-te fazer.
Troces. troces assim, parte.
Aqui rente...
Queres ver esta pequenina, para te fazer, aqui ao pé.
Vai, troce agora, troce, troce …
Troce!
Exacto!
Vai!
Troce mais!
Troce mais!
Mais!
Vai trocendo!
Vai trocendo!
Vai!
Vai, vai!
Troce, troce, troce!
Então?!
Está bom! Vês!
Estas aqui não prestam!
São muita boas para sumo.
Ah, para sumo são boas!
Estás a ver,
se isto fosse só com químicos,
ou adubos, nunca tomam esta raiz.
Nunca tomam batata que preste.
Adubos, isso, não presta.
Já experimentaste?
Oh! Tanta vez!
Semeava ao coiso... ao uso do meu pai
que Deus tem,
ou dos meus avós, ou coisa assim parecida.
Você diz que aqui não estão podres...
Não senhor!
Então vá!
Escolhe... escolhe aí à sua maneira!
Nah! É tudo a eito!
Não me faz diferença miúdas,
que eu também gosto das miúdinhas...
para cozer.
Ai! Agora como a terra tá …
Amanhã passo aí toda com o tractor.
… nasce logo o feijão!
Nasce tudo! Ah! Então terra que fica aí!
O que é que vai fazer com o tractor?
Lavrá-la.
Com a charrua?
Não!!
Com o escarificador, só!!
Escarificador ...
Só com os ganchos!
Você empurra-a lá mais aquele rapaz.
Empurram …
O Mário vem aí homem!
Hã?
O Mário vem aí!
Ah!
Eu engato-a.
Engato-a quando ela ...
Engata o quê?
Já não engata nada!
Espere aí.
Não engate isso logo.
Não.
Atã, bora!
Vai!!
Vá, engate já!!
Engate-a!!
Engate já!!
Vai!!
Pega!!

É a vela.
Eu pensei que era a gasolina,
mas ela tem muita gasolina.
Tem o depósito mais de meio.

Isto vai para baixo, pelas rilheiras,
rega-se... rega-se aí pia fora!
Isto é uma... isto é uma torneira à antiga portuguesa.
Agora já …
já há umas torneiras
que um gajo pode engatar aqui uma mangueira
e esta, esta não,
não se pode engatar aqui mangueira nenhuma.
Tem de se correr a água aqui à deriva.
João: Aqui a terra está muito húmida …
Pois está, por que o tanque tem repasso.
João: Está mesmo encharcada a terra …
Está, tem repasso aí.

“O poço cisterna”

A minha Ana … (35m 18s)

André: Depois, ainda vais regar isso Zé? 36m 18s
Pois, tem que ser ...
se não amanhã não está aqui nada!
(Este gajo já me deu cabo desta merda …)

Se for assim só,
a própria água, tem muita pressão,
faz um furo, na terra.
E assim não faz,
a água corre normal sem fazer furo.
O plástico não a deixa furar.
??? 37m 39s
Lisboa!
Lisboa, sim.
João: E, para ter bom pepino …
qual é o tratamento?
Agora, é semeado de pevide
não é plantado, semeado na terra,
directamente na terra, pevide.
Depois agora …
é crescerem mais um bocadinho,
depois cavam-se,
depois abrem-se os regos ao meio.
Água! Com fartura.
Mete-se um bocadinho,
ou de cobertura,
ou … eu costumo meter estrume de galinha,
é muito bom.
Dá muita força.
Estrume de galinha …
Tomates, pimentos e pepinos ...
Tem que haver é sempre água com fartura,
se não queima-os.
Mas é muito bom!
Dá uma força enorme aos pepinos.

“Horácio regando as plantas de cebolo.”
João: Isto aqui, as pessoas … é um problema
por causa da água … se não têm furo...
Horácio: Então, quem é que pode regar da rede?
E agora, para o ano,
vou experimentar fazer de gota-a-gota.
Comprar uma mangueira,
fazer de gota-a-gota,
experimentar ...
Tenho lá em baixo já,
na horta do patrão,
temos tudo de gota-a-gota,
agora …
A água vem em queda livre, lá de cima …
Agora vou mudá-la …
André: Olá Cláudia!
Anda cá, dizer-me uma coisa.
Cláudia, o que é tu gostas mais,
aqui da horta do teu pai?
Alface.

André: E então, o que é gosta mais aqui na sua horta?
O que é que eu gosto mais?
Sim.
Eu sei lá. Eu gosto de tudo!
Mas gosto muito das flores.
Quer dizer ...
não dá assim muito ...
muito interesse,
Mas, assim as outras coisinhas da horta
é que dão mais interesse,
mas gosto muito das flores.
Uma horta sem ter uma florinha
não tem graça!
Quantas horas por dia
é que passa aqui no jardim?
Ah! Isso, isso … olhe não sei.
Porque eu... não olho ao tempo.
Não olho ao tempo.
Teve … olhe, tem alturas que às vezes chega
a ser três e quatro horas de fio!
Mas há dias que eu também …
também não faço nada! … na horta.
É conforme o tempo,
que eu tenho,
e a necessidade
que as coisas têm de ser arranjadas.
Olhe, hoje, por exemplo,
não fiz assim muito… na horta.
Cavei aquele bocadinho de terra,
semeei as batatas.
Depois andava, queria apanhar
a erva, além debaixo da árvore,
mas, depois chegou a vizinha,
pus-me em conversa com ela ...
pronto, acabou-se o trabalho!
E então é assim.
E agora foi os senhores
que me vieram empatar!
Pronto, já não faço nada hoje, na horta!

Estão pimentões …
André: Estragaram-se porquê?
Sim, por causa da chuva.
É a couve, é ... essas coisas assim.
As plantas estão … pronto …
Mas as plantas estragaram por causa da chuva.
Então, como a chuva foi muita...
Ali tinha mais coisas semeadas,
mas elas estragou-se.
Então ... pronto … olha ...
O que é que gente há-de fazer?
Estragou-se! …
Aqui também é meu.
Aqui é o meu caldo verde.
É as minhas folhas … as folhas que eu faço para a comida.
Pronto, para eu vir buscar
quando tiver falta.
E depois, vou para a frente!
Aqui tenho cebolas,
tenho uma laranjeira,
tenho parreiras,
tenho essas coisas.
Aqui é uma árvore
que eu não sei o que é que é.
Que não conheço.
É .. não sei o que é que é.
Dispus aqui, mas não sei o que é.
É assim, é a vida, n'é?!
João: É a vida da … do campo...
É a vida do campo!
A vida do campo é que dá alguma coisa!
N'é a vida da …
Sim.
A vida da … da cidade,
ou a vida que a pessoa leve boa vida não dá.
A vida do campo é que dá.
De onde é que a gente come?
É do campo.
Pois … do campo é que a gente come.


“Oh, Aldeia, Oh Aldeia,
Aldeia das Amoreiras,
Toda a moça que é bonita
Vai lavar às passadeiras.

Vai lavar às passadeiras,
Seja bonita ou feia,
Aldeia das Amoreiras,
Oh Aldeia! Oh Aldeia!

Se fores a São Martinho,
Passas à Vargem Redonda,
Manda lá saudades minhas
Às raparigas da monda.

Às raparigas da monda,
Um abraço e um beijinho
Passas à Vargem Redonda,
Se fores a São Martinho.”

dirigido por
João Gonçalves
Bruno Caracol

produção
Centro de Convergência
G.A.I.A.

entrevistas
João Gonçalves
André Vizinho

câmara
André Vizinho
Bruno Caracol
João Gonçalves

som
Frank Laranja

edição
Bruno Caracol
Frank Laranja

música
Vera Lúcia
Frank Laranja


participam no filme
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