quarta-feira, 11 de junho de 2008
domingo, 25 de maio de 2008
a companhia dos cavadores na Boucha Longa
com os artistas do garrancho convidados:
trio Gonçalo Silva, Ti Mário, e Alex Castanheira Silva
e o quarteto Paulo Dias, Nuno Silva, Ric Silva e Tig Gonçalves




trio Gonçalo Silva, Ti Mário, e Alex Castanheira Silva
e o quarteto Paulo Dias, Nuno Silva, Ric Silva e Tig Gonçalves




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estrume
terça-feira, 13 de maio de 2008
PAULO FREIRE: A leitura do Mundo
PAULO FREIRE: A leitura do Mundo
"Ivo viu a uva", ensinavam os manuais de alfabetização. Mas o professor
Paulo Freire, com o seu método de alfabetizar conscientizando, fez adultos e
crianças, no Brasil e na Guiné-Bissau, na Índia e na Nicarágua, descobrirem
que Ivo não viu apenas com os olhos. Viu também com a mente e se perguntou
se uva é natureza ou cultura.
Ivo viu que a fruta não resulta do trabalho humano. É Criação, é natureza.
Paulo Freire ensinou a Ivo que semear uva é ação humana na e sobre a
natureza. É a mão, multiferramenta, despertando as potencialidades do fruto.
Assim como o próprio ser humano foi semeado pela natureza em anos e anos de
evolução do Cosmo.
Colher a uva, esmagá-la e transformá-la em vinho é cultura, assinalou Paulo
Freire. O trabalho humaniza a natureza e, ao realizá-lo o homem e a mulher
se humanizam. Trabalho que instaura o nó de relações, a vida social. Graças
ao professor, que iniciou sua pedagogia revolucionária com trabalhadores do
Sesi de Pernambuco, Ivo viu também que a uva é colhida por bóia-frias, que
ganham pouco, e comercializada por atravessadores, que ganham melhor.
Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa
ignorante. Antes de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tijolo a
tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não era
capaz de construir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não existe
ninguém mais culto do que o outro, existem culturas paralelas, distintas,
que se complementam na vida social.
Ivo viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos, a parreira, a plantação
inteira. Ensinou a Ivo que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida
quanto mais se insere o texto no contexto do autor e do leitor. É dessa
relação dialógica entre texto e contexto que o autor e do leitor. É dessa
relação dialógica entre texto e contexto que Ivo extrai o pretexto para
agir. No início e no fim do aprendizado é a práxis de Ivo que importa.
Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito
histórico.
Ivo viu a uva e não viu a ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a
uva. O que Ivo vê é diferente do que vê a ave. Assim, Paulo Freire ensinou a
Ivo um princípio fundamental da epistemologia: a cabeça pensa onde os pés
pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do opressor ou pela ótica
do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma da outra como entre a
visão Ptolomeu, ao observar o sistema solar com os pés na Terra, e a de
Copérnico, ao imaginar-se com os pés no Sol.
Agora Ivo vê a uva, a parreira e todas as relações sociais que fazem do
fruto festa no cálice de vinho, mas já não vê Paulo Freire, que mergulhou no
Amor na manhã de 2 de maio de 1997. Deixou-nos uma obra inestimável e um
testemunho admirável de competência e coerência.
Paulo deveria estar em Cuba, onde receberia o título de Doutor Honoris
Causa, da Universidade de Havana. Ao sentir dolorido seu coração que tanto
amou, pediu que eu fosse representá-lo. De passagem marcada para Israel, não
me foi possível atendê-lo. Contudo, antes de embarcar fui rezar com Nita,
sua mulher, e os filhos, em torno de seu semblante tranqüilo: Paulo via
Deus.
Frei Betto é escritor.
http://www.joseferreira.info/
http://www.paulofreire.org
"Ivo viu a uva", ensinavam os manuais de alfabetização. Mas o professor
Paulo Freire, com o seu método de alfabetizar conscientizando, fez adultos e
crianças, no Brasil e na Guiné-Bissau, na Índia e na Nicarágua, descobrirem
que Ivo não viu apenas com os olhos. Viu também com a mente e se perguntou
se uva é natureza ou cultura.
Ivo viu que a fruta não resulta do trabalho humano. É Criação, é natureza.
Paulo Freire ensinou a Ivo que semear uva é ação humana na e sobre a
natureza. É a mão, multiferramenta, despertando as potencialidades do fruto.
Assim como o próprio ser humano foi semeado pela natureza em anos e anos de
evolução do Cosmo.
Colher a uva, esmagá-la e transformá-la em vinho é cultura, assinalou Paulo
Freire. O trabalho humaniza a natureza e, ao realizá-lo o homem e a mulher
se humanizam. Trabalho que instaura o nó de relações, a vida social. Graças
ao professor, que iniciou sua pedagogia revolucionária com trabalhadores do
Sesi de Pernambuco, Ivo viu também que a uva é colhida por bóia-frias, que
ganham pouco, e comercializada por atravessadores, que ganham melhor.
Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa
ignorante. Antes de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tijolo a
tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não era
capaz de construir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não existe
ninguém mais culto do que o outro, existem culturas paralelas, distintas,
que se complementam na vida social.
Ivo viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos, a parreira, a plantação
inteira. Ensinou a Ivo que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida
quanto mais se insere o texto no contexto do autor e do leitor. É dessa
relação dialógica entre texto e contexto que o autor e do leitor. É dessa
relação dialógica entre texto e contexto que Ivo extrai o pretexto para
agir. No início e no fim do aprendizado é a práxis de Ivo que importa.
Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito
histórico.
Ivo viu a uva e não viu a ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a
uva. O que Ivo vê é diferente do que vê a ave. Assim, Paulo Freire ensinou a
Ivo um princípio fundamental da epistemologia: a cabeça pensa onde os pés
pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do opressor ou pela ótica
do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma da outra como entre a
visão Ptolomeu, ao observar o sistema solar com os pés na Terra, e a de
Copérnico, ao imaginar-se com os pés no Sol.
Agora Ivo vê a uva, a parreira e todas as relações sociais que fazem do
fruto festa no cálice de vinho, mas já não vê Paulo Freire, que mergulhou no
Amor na manhã de 2 de maio de 1997. Deixou-nos uma obra inestimável e um
testemunho admirável de competência e coerência.
Paulo deveria estar em Cuba, onde receberia o título de Doutor Honoris
Causa, da Universidade de Havana. Ao sentir dolorido seu coração que tanto
amou, pediu que eu fosse representá-lo. De passagem marcada para Israel, não
me foi possível atendê-lo. Contudo, antes de embarcar fui rezar com Nita,
sua mulher, e os filhos, em torno de seu semblante tranqüilo: Paulo via
Deus.
Frei Betto é escritor.
http://www.joseferreira.info/
http://www.paulofreire.org
segunda-feira, 28 de abril de 2008
Abril ...
frio e molhado enche o celeiro e farta o gado
terra para semear na Boucha Longa



sementeira de batatas no Bacelo


sementeira de milho na Horta


a ceifar uma erva para os coelhos

e para secar, para as ovelhas

terra para semear no Chão do Porto



as batatas do Lameiro

de regresso ao povo
terra para semear na Boucha Longa



sementeira de batatas no Bacelo


sementeira de milho na Horta


a ceifar uma erva para os coelhos

e para secar, para as ovelhas

terra para semear no Chão do Porto



as batatas do Lameiro

de regresso ao povo

quarta-feira, 26 de março de 2008
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